25 abril 2006

Cinco propostas

1. O que observamos, ouvimos e registamos é condicionado pelo grupo ao qual pertencemos, pela nossa cultura, pelas nossas representações sociais, pelo contexto no qual actuamos, etc. A visão que temos não é imediata, mas filtrada por esse condicionamento. Ver não é como num espelho: o que se vê é o que é[*]. Pelo contrário: o que se vê é o que nós somos obrigados a ver.
[*] Todavia, isto pode não ser rigorosamente verdadeiro: o espelho pode devolver-nos uma imagem distorcida…

2. O que está a ser proposto não é que o investigador invente a realidade no sentido de a falsificar (por exemplo: lá onde é negro, descrevemos branco). O que está a ser proposto é que o investigador tenha consciência do seu condicionamento social.

3. A actividade humana formata as nossas representações sociais. Habituamo-nos ao que fazemos e observamos, introduzimos a evidência em tudo isso, naturalizamos tudo isso. Ora, o primeiro dever do investigador é tomar consciência disso, é recuperar o espanto e subverter a evidência com a novidade, com o nunca visto. Nada se pode observar e descrever sem o selo da novidade.

4. O investigador nunca deve tomar uma negativa por uma ausência de informação. A ausência de informação também é uma informação.

5. Um aspecto fundamental na pesquisa é a nossa capacidade de fazer o estudo e análise do que Erving Goffman chamou "comportamentos menores", quer dizer, de tudo aquilo que é o dia-a-dia da produção da sociedade, de tudo aquilo que é rotina, "coisa sem importância".

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