24 abril 2006

O tempo antropológico das nossas cidades

A fugacidade que escorre da agitação do mundo febril dos chapas, dos dumbas, das barracas, etc., das nossas cidades, é constantemente violada e compensada pela produção do tempo antropológico. Na verdade, milhares de pessoas investem diariamente no diálogo, nas horas que perderam o perímetro, no tempo que rompe os relógios, nos espaços a um tempo afectivos e belicosos, rudes e doces, confiantes e trágicos. Cerimónias fúnebres, repastos, bula-bula de esquina, inter-ajuda de bairro, solidariedades religiosas, festas populares: tudo isso passa e pára, avança e recua, encurta e alonga, perpassa e sustém. No tempo que pressiona enxerta-se o tempo grávido do cosmos. Ao relógio da física clássica sucede a nuvem popperiana, complexa, aleatória, sempre mutante; a porta da vida cede lugar à ponte simmeliana: aquela pode fechar-se, esta dá sempre passagem.

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