28 julho 2007

Das mulheres de Bourdieu às mulheres de Touraine (4) (fim)

I
Temos, assim, dois tipos de mulheres: as mulheres condicionadas e as mulheres livres.
As mulheres condicionadas são aquelas que são dominadas não tanto porque porque os homens as dominam mas porque aceitam, porque interiorizam a dominação. Por outras palavras, elas auto-dominam-se aceitando como indiscutível o comando androcêntrico. A dominação é um aguilhão que ficou e fica sempre dentro delas pelos mais variados canais (Pierre Bourdieu).
As mulheres livres são aquelas que não se põem o problema da dominação em si, são aquelas que são conscientes da sua feminilidade e que como mulheres desejam fazer da relação com os homens um jogo natural, sem vencedores nem vencidos, salvo se a sexualidade falhar. A dominação não é um produto dos homens, mas um produto das falhas relacionais e, em última análise, das falhas femininas por escassez de feminilidade suficiente (Alain Touraine).

II
Estamos confrontados com dois paradigmas, paradigmas que são, afinal, os únicos na história do amor, na história das relações, múltiplas e sem história, entre homens e mulheres. Mas estamos, também, confrontados com dois modelos de visão da vida que nunca saberemos se precedem, se coexistem ou se sucedem à pesquisa. Este o eterno e secreto segredo que habita a trajectória de cada investigador.

III
Finalmente, deixem-me só colocar um ponto teórico que me parece fundamental: tenho para mim que Touraine tem ocupado uma parte da sua vida dialogando criticamente com Bourdieu, tentando ver liberdade lá onde Bourdieu sempre viu condicionamento social. A sociologia de Touraine é, no fundo, a sociologia do anti-bourdieurismo (leia aqui a descrição de um encontro que um dia tive com ele em Paris).
Da mesma forma, Max Weber passou a sua vida dialogando criticamente com Karl Marx, tentando encontrar indivíduos, espírito e neutralidade axiológica lá onde Marx encontrava grupos, classes, determinação pelo "modo de produção" e ciência ao serviço da libertação dos oprimidos. O seu livro "A ética protestante e o espírito do capitalismo", por exemplo, é, claramente, uma impugnação de "O Capital" de Marx. Portanto, a sociologia de Weber é, no fundo, a sociologia do anti-marxismo.

1 comentário:

Xiluva/SARA disse...

De acordo com o Langa, uma bela serie. Parabens Carlos Serra.