30 setembro 2007

Renamo: bode expiatório sempre à mão

O editorial do semanário "domingo" de hoje consiste num violento ataque à Renamo, vista como um ser jurássico que não quer inserir-se na era digital ao propor que o recenseamento de raiz em curso se faça manualmente. Face aos graves problemas que estão a ocorrer um pouco por todo o país, o "domingo" teria prestado melhor serviço à nação se, em lugar de, uma vez mais, fazer da Renamo o bode expiatório, o pau de toda a colher, fosse investigar as causas por que esses problemas estão a ocorrer após tantos anos de aprendizagem eleitoral, devendo perguntar-se, face a tantas avarias de computadores, se, ao fim e ao cabo, a contagem antropológica (à maneira lenta da alma, velhamente manual) não seria, afinal, temporariamente, o melhor remédio para os maus espíritos que perturbam os chips da razão.

Recenseamento cada vez mais desrecenseador

Multiplicam-se os problemas com o recenseamento de raiz para as eleições provinciais. Computadores avariados, material ainda não chegado aos postos, postos que ainda não iniciaram o recenseamento. Porta-vozes da Frelimo e da Renamo afirmam a sua preocupação (Rádio Moçambique, noticiário das 19.30). Enquanto isso, quer a Comissão Nacional de Eleições quer o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral continuam mudos sobre as causas de tão estranho e grave conjunto de problemas após tantos anos de aprendizagem eleitoral.

Poder (quando a alma se põe em sentido) (3) (continua)

Prossigo estas breves notas, breves hipóteses, esta tentativa de dar alguma disciplina ao poder de analisar o poder que é, afinal, relacional.
Coloquei como premissa do poder o facto de ele não existir salvo numa relação.
Para que o Sr. João Latsua tenha poder é preciso que eu autorize esse poder, é indispensável que eu aceite que ele induza a minha conduta, presente e futura, é fundamental que eu lhe dê o meu consentimento.
Não há poder sem relação e sem consentimento. Lá onde isso não existe não existe relação de poder. Prosseguirei.

Poder (quando a alma se põe em sentido) (2) (continua)

No número inaugural desta série, pintei-vos um quadro rápido mostrando o poder do Sr. João Latsua.
Efectivamente, nesse quadro existem artigos de poder como a viatura de luxo, o condutor, o guarda-costas, as duas empregadas, etc.
Por outro lado, nesse quadro existem manifestações instintivas de respeito para com o poder do Sr. João Latsua: a motricidade rápida e respeitadora das personagens que o rodeiam, a indicação clara de cada actor que rodeia o sr. João Latsua poder segregar indefenidamente essa motricidade em múltiplos exercícios de respeito, de acatamento de ordens.
Mas vamos lá colocar um problema: existe de facto algo como o poder, visível, tocável, mensurável, armazenável, distribuível? O Sr. João Latsua tem de facto algo como o poder?
A minha resposta nestas breves notas é que não há poder em si: apenas há poder de uns sobre os outros. O poder é da ordem das relações, não das coisas em si.
Prosseguirei.

1/23 de Outubro: júri do "The BOBs 2007" vai escolher os dez mais de cada categoria



Entre os dias 1 (amanhã) e 23 de Outubro, o júri internacional do The BOBs 2007 - composto por jornalistas independentes, pesquisadores da mídia e peritos em weblog -, nomeará dez finalistas em cada categoria do concurso. Estão inscritos cerca de 6.000 blogues. No momento em que vos escrevo, o Diário de um sociólogo (inscrito a 26/08/07), tem 764 visitas e 37 comentários registados. O continente africano continua sub-representado. Se acha que este blogue tem valor, aqui, neste continente, neste país e neste mundo, permita-me então pedir-lhe que vote em "sugerir este blog para THE BOBs 2007" e que comente em "redigir comentário" AQUI. Muito obrigado. E muito obrigado a todos aqueles que, entretanto, me deram e continuam a dar o prazer e a honra de votar em mim e de comentar este blogue.

Cada vez mais blogues inscritos aqui! Inscreva o seu também!

São cada vez mais os blogues moçambicanos. O que é excelente. Mas já me perdi a tentar dar conta de todos eles. Por isso gostaria de pedir a todos aqueles cujos portais não figuram na minha lista de elos, que deixassem as suas referências nesta postagem, pode ser? Basta escrevê-los em comentário. Muito obrigado. E, já agora, permitam-me uma sugestão: inscrevam os vossos blogues também aqui, onde já muitos de nós estão.
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Não importa se estais na diáspora, está bem? E tb não restringirei blogues que, não sendo de Moçambicanos, aqui sejam feitos ou a Moçambique sejam dedicados.

"Diário de um sociólogo" entre "50 blogs para entender o mundo"


Eis a cabeça de uma reportagem publicada num jornal brasileiro: "A reportagem selecionou 50 blogs que servem como referência para a vida política e cultural de mais de 30 países. Todos são escritos em português, inglês ou espanhol." Veja depois o quadro dos blogues seleccionados, estando este diário do lado direito na coluna de África. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato para ampliar a imagem.
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Adenda a 20/09/07: notícia referida no "Canal de Moçambique" de hoje.

29 setembro 2007

Duas mulheres linchadas na Matola-Rio

Uma jovem de 16 anos, grávida de uma criança de oito meses, foi linchada sábado passado na Matola-Rio, a cerca de 20 quilómetros da cidade de Maputo. Hoje, foi linchada a mãe do rapaz acusado de ter engravidado a rapariga. Os linchamentos foram por espancamento e, no caso da mãe do rapaz, seguido de empalamento. Estão detidas três pessoas relacionadas com o segundo linchamento. Uma estudante universitária agregada à equipa da UDS trabalha no caso.
Enquanto isso, 12 estudantes universitários da equipa trabalharam hoje (e prosseguem amanhã) nos bairros Inhagóia e Hulene, na periferia da cidade de Maputo.
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Parece estarmos em novo pico linchatório em Maputo e Beira. Este caso da Matola-Rio mostra dois aspectos singulares: (1) mulheres linchadas (a esmagadora maioria dos linchados que a equipa da UDS estuda é constituída por jovens do sexo masculino acusados de roubo) e (2) causas que nada têm a ver com roubo.

Mais de 200 confissões religiosas em Manica

Mais de 200 confissões religiosas estão registadas na província de Manica, centro do país (Rádio Moçambique, noticiário das 19.30). Entretanto, recorde o que há tempos aqui escrevi a propósito.

Made in Mozambique: Mecanhelas exporta ratos para o Malawi

Habitantes do distrito de Macanhelas (província do Niassa, norte do país) exportam ratos campestres para o Malawi, cuja culinária não dispensa os roedores e onde um cesto deles custa o equivalente a uma bicicleta. O problema são as queimadas descontroladas para caçar os bichinhos.

Perdemos por 3/0

Ainda não foi desta que garantimos lugar na final da Taça Castle: perdemos hoje por 3/0 com a Zâmbia. Parece ser nosso destino perder sempre com a Zâmbia. O treinador holandês estreou dois jovens jogadores de Nampula (Rádio Moçambique, relato).
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Provavelmente também a estratégia do vovô falhou. Por favor, deixem-me ter esta nota de humor.

Dois jovens linchados esta madrugada na Beira


Dois jovens aparentando ter 18 anos foram linchados até à morte por espancamento esta madrugada, na periferia da cidade da Beira. Um porta-voz da polícia disse suspeitar que os corpos foram levados para o Bairro Vaz para despiste. Os corpos foram removidos para a morgue da cidade da Beira, na expectativa de que as famílias os reclamem (fontes: (1) pessoa ligada à pesquisa sobre linchamentos da UDS e (2) jornalista da Rádio Moçambique).

Poder (quando a alma se põe em sentido) (1)

O condutor da viatura Volvo do Sr. João Latsua estaciona à entrada da garagem da vivenda do chefe, podendo ser vista da rua onde me encontro, muito perto. Imediatamente o segurança sai da viatura e vem abrir a porta da estrutura enquanto o condutor, que saíra antes, está em sentido. O Sr. João, chefe, estrutura, caminha rapidamente para casa, sem olhar nem cumprimentar. O condutor reentra e toca a buzina. Saiem a correr da vivenda duas empregadas, vestidas de bata e touca. O segurança abre a bagageira, dá ordens breves e as empregadas começam a carregar as numerosas e diversas compras para a semana do chefe.
Está o poder do chefe nele? O chefe é poder, substância de poder, poder coagulado?

Zimbábuè

Leia sobre o Zimbábuè, sobre Mugabe e sobre a lealdade (recompensada) do seu aparelho militar aqui. Foto tirada daqui. E, já agora, saiba o que pensa o arcebispo Desmond Tutu.

Poder (quando a alma se põe em sentido)


Nas próximas horas aqui começo uma breve série com o título em epígrafe.

A cola-tudo ndau

Volta e meia aparece alguém a contar as pessoas de acordo com a sua origem étnica. Na verdade, a etnicidade é uma cola terrível: quando agarra alguém, não sai mais. A propósito disso, temos o Sr.Cristóvão Nhacatate, antigo deputado da Assembleia da República pela bancada da Renamo-União Eleitoral, que ocupa um bom espaço no "Notícias" de hoje a propósito do que considera ser uma excessiva predominância ndau no seio da Renamo. O Sr. Nhacatate considera mesmo que a Renamo poderá sofrer revezes nas próximas eleições devido ao tribalismo em geral e ao ndauísmo em particular. Prestem atenção a este exercício de contabilidade ndauista: “Se formos a ver, no Município da Beira o presidente da edilidade é ndau, a maioria dos vereadores e directores municipais também são ndaus, os chefes de departamento, dos postos e os secretários dos bairros também são todos eles ndaus. Mesmo a nível da polícia municipal foram recrutados antigos guerrilheiros da mesma tribo que gozam de plena confiança de Afonso Dhlakama. Este exemplo é muito bem elucidativo de como o tribalismo impera no seio da Renamo”.

28 setembro 2007

Roubado o único computador de Dómuè

Foi roubado o único computador de Dómuè, distrito de Angónia, província de Tete, destinado aos trabalhos do recenseamento eleitoral em curso. Estão detidos para averiguações um polícia e quatro brigadistas (Rádio Moçambique, 21.25).

Morreu Obadias Muiambo


Morreu ontem subitamente, cerca das 14.30, com 71 anos, no Chokué, província de Gaza, o conhecido cantor e compositor Obadias Muiambo. Deixa viúva e 11 filhos (Rádio Moçambique, informação às 21. 20).

Amanhã às 14 horas: Moçambique/Zâmbia

Amanhã, às 14 horas, no Super Stadium de Pretória, África do Sul, a nossa equipa de futebol sénior joga com a Zâmbia, nas meias-finais da Taça Castle.
Em frente, Mambas!

Recordando Egídio Vaz a propósito do Zimbábuè

Um vivo debate tem-se travado neste diário a propósito de uma postagem com o título "Mugabe entre Langa e Mabunda". Em minha opinião, vale a pena recordar aqui o que o historiador Egídio Vaz escreveu sobre o Zimbábuè e Mugabe em Março e Abril.
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Já agora e com a presença de Egídio, do então ainda não vice-ministro Gabriel Muthisse, do Jorge Matine, etc., recorde este debate decorrido aqui em Março (obrigado à Yolanda por me ter recordado onde ele estava, o debate, veja lá como sou desorganizado e esquecido!).

Arcebispo Chimoio nega afirmações da BBC (segundo "Imensis" citando o "Público")

"O responsável pela Igreja Católica de Moçambique, o arcebispo de Maputo, D. Francisco Chimoio, negou hoje, em declarações à Rádio Renascença, ter acusado dois países europeus de infectarem deliberadamente preservativos e medicamentos anti-retrovirais com o vírus da sida, com o objectivo de "exterminar rapidamente o povo africano"". Verifique a mesma recusa aqui.
Reconfira a BBC e o Guardian aqui.

Melhorámos nos negócios

"O capitalista, ao transformar o dinheiro em mercadorias que servem de elementos materiais de um novo produto, incorporando-lhes em seguida a força de trabalho vivo, transforma o valor - do trabalho anterior, morto, tornado coisa - em capital, em valor engrossado de valor, monstro animado que se põe a trabalhar como se tivesse o diabo no corpo" (Karl Marx em "O Capital")
Enquanto o semanário "O País" tem hoje como uma das suas manchetes os dados da Transparency International (baseados nas percepções de empresários e analistas locais) que nos colocam Moçambique entre "os mais corruptos do mundo" (obtivemos o 111.º lugar numa lista de 179) (p. 6), o suplemento "Economia e Negócios" do "Notícias" dedicou as suas centrais, com um gigantesco título garrafal e vermelho, à notícia de que o país subiu seis lugares no ranking "Doing Business 2008" do Banco Mundial (BM) (passámos do 140º lugar para o 134.º, com dados até Junho de 2007).
O "Notícias" mostra-se muito safisfeito, o empresário Salimo Abdula disse que é "um bom sinal" e o ministro do "Made in Mozambique", António Fernando, afirmou que a subida "era de esperar" face ao bom trabalho que o Governo tem feito. Num país de "renda baixa", o indicador que mais progressos registou foi o de "protecção de investidores" (lamentavelmente o jornal não nos mostra o que isso significa, certamente é tarefa do Banco Mundial, pp. 4-5).
Como sou pecaminosamente ignorante, não encontrei, claro, nenhuma referência a salários. Teria perversamente gostado de encontrar uma rubrica do género "protecção de salários". O que figura nos dados do BM reportados pelo "Notícias" é, por exemplo, uma rubrica chamada "contratação de funcionários", com indicadores como "índice de regidez de salários", "índice de dificuldade de demissão" (fantástico indicador este!), "índice de rigidez trabalhista", "custos extra-salariais" e "custos de demissão".
Lamentavelmente - por aquilo que o "Notícias" mostra -, os nossos índices são ainda elevados, ainda não aprendemos a salariar à maneira, a despedir rápido e a impedir custos de demissão.
Mas o ministro do "Made in Mozambique" tranquilizou os empresários através do "Notícias" afirmando que a nova Lei do Trabalho "introduziu uma série de facilidades, com destaque para a contratação da mão-de-obra, particularmente no que diz respeito à rescisão do contrato de trabalho e respectivas indeminizações" (p. 5). Por outras palavras, o que o ministro disse sem dizer dizendo é que a situação dos trabalhadores vai piorar. O Governo tem em curso - disse satisfeito António Fernando -um "vasto trabalho" para facilitar ainda mais o ambiente de negócios. Não tenho qualquer dúvida sobre isso.
Entretanto e ainda na sua edição de hoje, o "O País" dá conta da difícil vida dos trabalhadores nas construção civil, procurando sobreviver com magros salários (p. 11).

Mugabe entre Langa e Mabunda

É mais fácil encontrar uma agulha no palheiro do que desacordo no camaradismo entre as elites reinantes da SADC no tocante ao que se passa e ao que se (não) deve fazer no Zimbábuè, onde a taxa de inflacção atinge os 6.600%, o desemprego os 80% e a emigração é agora um modo de vida.
Entre nós e depois de Moisés Mabunda, é agora a vez do jornalista Jeremias Langa dizer certas coisas de frente, sem peias nefelibatas. Leiam-no. E, depois, para fazerem jus à doce dialéctica, comparem o texto de Langa com o texto heroicamente mugabeano e milenarista do Lázaro Mabunda.

Mas afinal somos corruptos?

A Transparência Internacional classificou-nos em 111.º lugar numa lista de 179 países no tocante à corrupção para 2006. Deram-nos 2,8 numa escala de 0 a 10. Tentarei escrever algo a propósito mais tarde.

27 setembro 2007

Bloguistas continuam a inscrever-se

Aumenta o número de bloguistas moçambicanos (ou com temáticas sobre Moçambique) que respondem ao pedido que fiz. Tanto blogue que eu não conhecia! Confira aqui.

Linchamentos: pesquisa prossegue


Prossegue normalmente a pesquisa sobre linchamentos a cargo da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane

A propósito dos preservativos europeus que matam africanos

Regressando às afirmações do arcebispo segundo a BBC e o Guardian: seria fascinante estudar a produção da crença (que é, também, o de uma lenda, de um rumor, de um mito ou de um boato) ao nível de muitos actores e grupos. Nem sempre a crença num rumor é produto da ignorância ou da falta de instrução. O rumor ou uma lenda contam uma história falsa para sublinhar um problema verdadeiro (por exemplo: HIV/Sida mata). Estudei e escrevi isso quando, há alguns anos atrás, investiguei o rumor de que o governo matava as pessoas de Nampula introduzindo cloro na água para provocar a cólera. E, regra geral, o rumor é produto de uma preocupação com a ordem moral, é exercício de medo, de receio da novidade técnica, do estrangeiro, da liberalização dos costumes, da mudança social, etc.
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Imagem extraída daqui. Mais uma pequena ideia: a exasperação emocional com o HIV/Sida pode ser ampliada com a ignorância sobre qual o significado do líquido que oleia o interior do preservativo. Ora, os líquidos são sempre um vector fundamental de crenças e de rumores. Com a peste negra na Europa, milhares de judeus foram chacinados no século XIV em França com o argumento de que eram os introdutores da doença através da água.

Segundo BBC e Guardian: Arcebispo de Maputo acusa produtores europeus de infectarem preservativos para matarem Africanos

O arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio, é hoje citado pelo Guardian, que por sua vez se baseia num despacho da BBC de ontem), em como afirmou que produtores europeus infectam deliberadamente preservativos com HIV para matarem rapidamente os Africanos. Terá mesmo referido dois países que, porém, não identificou. Confira aqui o despacho do Guardian.
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A ser verdadeiro, o ponto de vista de Chimoio nada tem de especial salvo o de ser apenas mais sofisticado do que o das trabalhadoras do sexo no distrito fronteiriço de Madimba, província do Niassa, uma parte das quais oriunda do Malawi.

O sempre jovem "O Príncipe" de Maquiavel

"(...) por muito forte que seja o exército de que se dispõe, é sempre necessário, para entrar numa província, o favor dos habitantes." (Nicolau Maquiavel em "O Príncipe")


Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

Cemitério de Lhanguene em Maputo


Confira aqui.

26 setembro 2007

Um blogue interessante


Confira aqui o catatau.

Recenseamento eleitoral : as acusações começaram

O porta-voz da Renamo afirmou que o recenseamento informático visa a fraude nas eleições de 16 de Janeiro. Em resposta, o porta-voz da Frelimo afirmou que as declarações do porta-voz da Renamo pretendem confundir a opinião pública. A Comissão Nacional de Eleições prefere não se manifestar.

Quem vive do passado é museu - Azael Moyana


"Magazine Independente" de hoje, p. 9. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

12 metralhadoras apreendidas no Bairro do Aeroporto

Segundo o semanário "Magazine Independente" de hoje, doze metralhadoras AKM foram descobertas na posse de uma quadrilha neutralizada no bairro do Aeroporto, cidade de Maputo. Está detido um oficial do exército para investigação e suspeita-se que as armas foram roubadas num quartel da província de Maputo (p. 8).
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Creio que é a primeira vez que, na história das ocorrência policiais relatadas na nossa imprensa, uma quadrilha é neutralizada na posse de tão avultado número de armas de fogo. E, ainda por cima, são metralhadoras. Corrijam-me caso esteja enganado.

Polícias exigem subsídios para proteger bancos

"Numa ronda efectuada pela Reportagem da nossa Delegação da Beira por várias instituições bancárias representadas naquela urbe para medir o pulsar da implementação daquela medida do Comando-Geral da PRM, constatámos um semblante desolador no rosto de alguns elementos da corporação ali em serviço. Dizem passar horas a fio sempre atentos a qualquer incursão dos meliantes. Reclamam, entre outras coisas, uma simples casa de banho, lanche, incluindo subsídio adicional de risco de vida."

Pensionistas a sofrer, feitos cantados

"Cerca de uma centena de viúvas dos combatentes da luta armada de libertação nacional, residentes em Nampula, estão a viver em situação de indigência absoluta, em consequência do atraso que se regista na fixação, pelo Ministério das Finanças, das respectivas pensões de sobrevivência."
Enquanto isso, o dia de hoje esteve latamente preenchido por copiosos discursos de dirigentes cantando os feitos da luta de libertação nacional e pedindo aos jovens que mantenham bem alto os ideais de 1964.

Madeira em toros embarca na Beira em barco chinês

"Quantidades enormes de madeira em toros, incluindo espécies proibidas por lei que vigora no país desde 30 de Junho, foram carregadas num navio de origem chinesa, baptizado com o nome de Huan Gian, que atracou no Porto da Beira a 12 de Setembro e largou na última segunda-feira em direcção àquele país asiático."
Não é a primeira que operadores chineses aparecem em evidência na imprensa ligados à exportação ilegal da nossa madeira.
Vamos a ver como estarão as nossas florestas dentro de 20 anos.
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Permitam-me recordar que este diário tem dezenas de postagens sobre o saque da madeira, incluindo uma carta para o presidente da República escrita a 30 de Janeiro.

25 setembro 2007

Segunda derrota

Perdemos pela segunda vez consecutiva hoje em Dakar, para o Campeonato Africano das Nações em basquetebol feminino sénior.

Pobreza diminui se malnutrição aumenta?

Como pode a pobreza estar a diminuir em Moçambique se a malnutrição aumentou? Na realidade, a situação da pobreza piorou ao contrário do que sustentam dizeres e estatísticas. Este o tom de um provocante trabalho do jornalista e professor universitário Joseph Hanlon, escrito em inglês.

Moçambique em 23.º na boa governação entre 48 países subsarianos avaliados pelo Índice Ibrahim

Em primeira mão: o nosso país foi classificado em 23.º lugar na boa governação em 2005 (melhorando desde 2002) entre 48 países subsarianos avaliados pela Fundação Mo Ibrahim, em resultados hoje dados a conhecer e que foram produzidos pela Escola de Governo Kennedy, um departamento da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos .
O Índice - financiado por Mo Ibrahim, multimilionário de telefonia móvel, cujo nome é, também, o da Fundação à retaguarda do estudo - opera em cinco sectores: Protecção Pessoal e Segurança, Estado de Direito, Transparência e Corrupção, Participação e Direitos Humanos, Desenvolvimento Económico Sustentável e Desenvolvimento Humano.
Os primeiros lugar foram ocupados por Maurícias (1.º), Seychelles (2.º) e Botswana (3.º). Países como Angola (42.º) e Nigéria (37.º) ficaram à retaguarda do Zimbábuè (31.º) e, mais surpreendentemente, o Rwanda ocupou o 18º lugar. Nos PALOPs, Cabo Verde está na melhor posição, a 4.ª na classificação geral. A África do Sul ficou em 5.º lugar.
Estes são resultados que certamente irão provocar grande surpresa e debate, como salienta hoje a BBC.
O editor da BBC para Assuntos Africanos, Martin Plaut, afirmou que os resultados revelam que os académicos parecem depositar mais credibilidade no desenvolvimento do que nas liberdades democráticas.
Podemos e devemos questionar os critérios. Mas tenho para mim que os países africanos precisam deste tipo de avaliações. Em última análise, elas obrigam-nos a pensar e eventualmente a mudar o que, muitas vezes, não queremos mudar. Depois, não fica mal recordar que no passado era uma tradição africana chamar "árbitros" externos para a boa mediação e resolução de problemas.
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19:15: acabei de dar uma entrevista à BBC a propósito desses resultados.

De onde vem todo este dinheiro?

"A admiração começa onde acaba a compreensão" (Baudelaire)
Hoje, neste belo dia fresco e chuvoso, maputei, fui de carro ao longo da Julius Nyerere, descendo pela rua que passa em frente à escola portuguesa, metendo depois pela marginal até à Costa do Sol e regressando para entrar pela 25 de Setembro, subir para a 24 de Julho e regressar ao xitolo. Devagar, cruzando com os habituais carros último modelo, fui espreitando, apalpando todo aquele casario de luxo que forma autênticas microcidades da Nyerere à Costa do Sol, intrometendo-se cada vez mais na zona verde junto à presidência da República. Creio que senti que amanhã já haverá mais mansões, mais condomínios protegidos por arame farpado electrificado. E a pergunta era e é sempre a mesma: de onde vem todo este dinheiro, todo este luxo que mais nenhuma cidade moçambicana possui? Quais as suas fontes numa grelha sempre em crescimento que inclui bombas de gazolina, hotéis, casas de câmbio e casinos?

O blogue do Sérgio na Suécia

O pedido que fiz aos bloguistas moçambicanos - mesmo se na diáspora - continua a ser respondido. Eis, agora, o blogue do excelente fotógrafo que é Sérgio Santimano, vivendo em Uppsala, na Suécia.

País sem ladrão não é país

"Que nos pareça falsa toda a verdade que não nos traga consigo pelo menos uma alegria" (Friedrich Nietzsche)
Na investigação que fazemos sobre linchamentos, temos usado várias formas de registo de percepções populares. Uma delas consiste em metermo-nos em chapas e em suscitarmos um debate sobre agressões, roubos e medidas a tomar. Por exemplo, na rota Muhala-Matadouro em Nampula, o compreensivo, dialéctico motorista do chapa interveio em meio à discussão que provocámos para dizer o seguinte:
“País sem ladrão não é país. O ladrão quando rouba está a fazer o serviço dele, como eu estou a fazer o meu serviço. Se matarmos o ladrão então não havia necessidade de construir cadeia para estar vazia. A melhor coisa é entregar à autoridade. Roubar é vício que Deus deu por isso é melhor deixar. Uma pessoa que tem fé em Deus, se alguém me fizer mal enquanto eu lhe salvei, eu só posso agradecer a Deus porque cada um foi nascido na sua maneira ( há uns que têem coração de cobra e outros tem coração de pessoa). É bom agradecer com livre vontade porque assim Deus vai-lhe ajudar." ("Diário de campo" de um dos investigadores).

O que se faz a um ladrão?

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
A equipa da Unidade de Diagnóstico Social prossegue a sua investigação sobre linchamentos. Uma das veredas desse trabalho consiste em pedir a estudantes de escolas primárias do 2.º grau que escrevam uma redacção na qual digam o que se deve fazer a um ladrão. Eis três respostas dadas numa escola de Maputo, na disciplina de Ciências Sociais. Comecemos pela Regina, que propõe que se bata e se queime o ladrão "para não roubar mais", sendo a polícia dispensável:
Passemos agora ao Francisco, mais drástico e amplo do que a Regina, com três soluções (posso= poço; no fim da redacção, a expressão "tampar com área"= tapar com areia):

E terminemos com Alberto, que sugere a queima do ladrão com pneu e depois o lançamento do corpo no rio:

A convocatória de Ndlovu

Acontece que, com o título "convocatória", Djenguenyenye Ndlovu escreveu uma bela carta, juvenil e cheia de incentivo, aos jovens formados que não têm emprego nas cidades e que podem encontrar uma vida bem melhor lá nos distritos onde são alocados os sete milhões. Podem acumular - assegura Ndlovu - e até terem um quintal "onde para além da capoeira, podem verdejar alguns vegetais, alguns legumes, o que é muito bom para uma alimentação saudável."