26 maio 2009

Leões, chuva, cólera e energia nociva: trajectórias de "guerreiros" (5)

Agora, o fim desta série.
Nem sempre a educação científica consegue excluir uma característica que parece ser vincadamente humana, vincadamente partilhada: a crença de que os fenómenos são intencionalmente provocados não por coisas, mas por alguém. No nosso pensamento espontâneo, é sempre difícil aceitarmos o acaso, a ausência de intenção. A pergunta base não é esta: o que provocou isto? Mas esta: quem provocou isto?
Assim, se a chuva está amarrada ao céu é porque alguém a amarrou e esse alguém é poderoso. Se os leões e os crocodilos comem pessoas é porque alguém poderoso comanda esses animais e os usa para fins maléficos. Se existe HIV/SIDA, se existe cancro, se existem mudanças climáticas, se usamos celulares, é porque os capitalistas da Nova Ordem Mundial, bàlóii tenebrosos, assim decidiram, para tornar infeliz a nossa vida e fazê-la refém das energias negativas.
Temos então problemas de feitiçaria que importa contrariar com acções (muitas vezes criminosas) e com drogas eficazes, com mezinhas poderosas. A atmosfera, o ambiente, a sociedade, a barragem de Cabora Bassa, tudo está poluído, contaminado, sujo. É vital despoluir através de energias benéficas.
À muzic do nosso curandeiro correspondem os acumuladores de orgónio ou a orgonite dos curandeiros etéricos. São os camponeses pobres e os guerreiros etéricos, ricos? Não importa, as crenças não escolhem condições sociais e o acreditado feitiço não tem idade nem pátria. São uns mais fanáticos do que outros? Não, são simplesmente fanáticos diferentes. Todos somos fanáticos, à nossa maneira. A inteligência tem sempre à espreita os instintos da vida e a busca de compreensão para tudo. Pensamento cientificamente errado? Sim, mas socialmente útil, fazendo sentido.
(fim)

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