30 novembro 2013

Malandragem internética

A malandragem internética é vasta. Por exemplo, pode acontecer que alguém exiba - se não exibiu já - em blogues e/ou redes sociais falsos destroços que atribuirá ao nosso avião da LAM. Em momentos de comoção, as nossas defesas preventivas estão entorpecidas e são facilmente permeáveis a malandragens desse género. A tipologia da malandragem internética, franqueada ao sensacionalismo mais primário tipo Yahoo news, vai desde os ciberpistoleiros anónimos aos fabricantes de falsos testemunhos e de boatos, passando pelos produtores de vídeos deformadores da realidade e pelos descarados parasitas do copia/cola/mexerica. Ao nível do parasitismo, por exemplo, um mapa por mim colocado neste diário citando uma fonte namibiana é suficiente para, minutos depois, irradiar através de oportunistas internéticos que jamais indicam de onde verdadeiramente o copiaram.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (4); Propaganda eleitoral pelo vestuário (6); Diário de campanha (15); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (28); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (70); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)

"The Namibian": não há sobreviventes no avião da LAM

Segundo The Namibian, foram encontrados os destroços do avião da LAM, caído na região da Bwabwata, Namíbia, não havendo sobreviventes dos 34 ocupantes. Aqui.
Adenda às 12:51: uma tristeza profunda.

Sobre o avião da LAM

Confira a mais recente notícia sobre o avião TM 470 das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) no The Namibian, aqui.
Adenda às 09:00: o portal da LAM não está actualizado desde as 11:26 de ontem, aqui.
Adenda 2 às 09:08: confira a Aljazeera aqui.
Adenda 3 às 09:20: não há referências ao avião nos jornais digitais do Botswana, aqui.
Adenda 4 às 09:29: no Jornal de Notícias de Portugal, aqui:
Adenda 5 às 09:35: ainda nenhuma referência no portal do fabricante brasileiro do avião, aqui.
Adenda 6 às 09:49: a mais recente notícia na AFP, aqui.
Adenda 7 às 10:20: oficiais namibianos procuram o avião, um helicóptero da polícia participa nas buscas, confira aqui.
Adenda 8 às 10:37: a LAM divulgou a nacionalidade dos passageiros do avião na sua página do Facebook, aqui:
Adenda 9 às 12:36: segundo  a SIC portuguesa, citando autoridades moçambicanas, foi encontrado o avião da LAM, não havendo sobreviventes dos 34 ocupantes, aqui.

Onde começar

O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (3)

---"No terreno, não se constatou quem foi recrutado, onde, como, quando e nem o quartel onde eles estejam a treinar, neste momento. Estas cinco evidências não são comprovadas.”
---"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa."
---"Se as pessoas definem certas situações como reais, elas são reais em suas conseqüências."
Terceiro número da série. Entro no primeiro ponto do sumário apresentado no número anterior. 1. Introdução. Entre os dias 25 e 27 do corrente mês, com um clímax violento no dia 27, jovens começaram a protestar no Bairro da Munhava, periferia da cidade da Beira, contra o que entenderam ser um recrutamento forçado para o serviço militar. Correu, como um  rastilho, a notícia de que militares estavam a deter e a levar jovens nos mais variados pontos. Os protestos estenderam-se a outros bairros periféricos e chegaram, embora com intensidade menor, ao município do Dondo, a cerca de 20 quilómetros. Jovens muniram-se de objectos contundentes, levantaram barricadas, incendiaram pneus, lojas e mercados fecharam, pessoas fecharam-se em casa, algumas pessoas ficaram feridas, uma criança morreu aparentemente atropelada por um camião, a polícia interveio lançando gás lacrimogéneo e disparando para o ar. No dia 28 a situação começou a voltar à normalidade. Se não se importam, prossigo mais tarde.
(continua)

Edição 1038

29 novembro 2013

Reportagem da STV

Adenda às 20:35: amanhã sai o terceiro número da minha série O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè.
Adenda 2 às 20:46: na reportagem, houve quem tivesse dito que tinha ouvido falar de um contentor e de um camião carregados de jovens recrutados à força. Ninguém viu, mas todos ouviram dizer que..., etc. Trata-se da clássica história do bicho-papão.

Maputo

Estão belas as copas das acácias de Maputo, crescem abacates, limões, papaias, figos, mangas e cânhamo. No Jardim dos Namorados, conhecem a árvore do cânhamo (neste momento carregada de frutos) do Surf e a centenária figueira que mira o Índico?

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (3); Propaganda eleitoral pelo vestuário (6); Diário de campanha (15); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (28); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (70); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)

Boato

Edição 630 a entrar

Edição 1038 amanhã neste diário

O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (2)

Segundo número da série. Eis o sumário enquadrador:
1. Introdução
2. Teorema de Thomas e estrutura viral de um duplo boato
3. Obstinada fé compensatória
4. Concepção conspiratória na condenação
5. Irradiação e ampliação via blogues e redes sociais
6. Eclosão na Munhava: dois fenómenos
7. Fenómenos especiais: ataques armados, eleições e actuação da FIR
8. Significado aglutinado: síndrome de Muxúnguè
9. Força de um tsunami social e eventual aproveitamento multiforme
10. Inquietação social, predisposição à crença ilimitada e efeito multiplicador
11. Fenómenos aparentados: do chupa-sangue ao ferro de engomar
12. Conclusão
Se não se importam, prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda às 06:13: “Reafirmamos que se trata de um boato, [...] Trata-se de uma invenção”, afirmou Edgar Cossa. Disse ainda que o Ministério recebeu a informação de anónimos e, de seguida, tentou averiguar no terreno, mas não encontrou provas claras que explicam a situação. “No terreno, não se constatou quem foi recrutado, onde, como, quando e nem o quartel onde eles estejam a treinar, neste momento. Estas cinco evidências não são comprovadas”, disse o porta-voz."
Adenda 2 às 06:26"No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa."
Adenda 3 às 08:06: jornalistas com trabalho feito na cidade da Beira disseram-me que popularmente ninguém usava a expressão "tira camisa". A expressão popularmente usada, em português, tinha a seguinte matriz: "Não queremos ir à tropa". Regressarei a este também boato (o do "tira camisa") no desenvolvimento do sumário.
Adenda 4 às 11:30: o boato não é uma irrealidade, não é menos verdadeiro do que a realidade. O grande problema consiste em descobrir a sua gramática. Por trás de um boato há uma cadeia de fenómenos que importa trazer à superfície analítica.
Adenda 5 às 12:00: "Mas faremos todo o esforço para clarificar este caso”, disse o vice-ministro, tendo referido ainda que esta questão de recrutamento compulsivo está a pôr em causa a idoneidade de todo o governo moçambicano."
Adenda 6 às 15:07: intervenção do primeiro-ministro, aqui.

Propaganda eleitoral pelo vestuário (5)

Quinto número da série. Escrevi no número anterior que o vestuário pode ser uma isca política destinada a invalidar a política sem deixar de a praticar. Mas antes de explicar tão enigmática expressão, importa ter em conta dois tipos de candidatos partidários: aqueles que são a linguagem textual do partido e aqueles que a inventam. No primeiro caso estamos perante seguidismo doutrinário, perante a reprodução mecânica e sem criatividade dos programas partidários, perante a cautela metodológica, perante a aplicação cuidadosa da cartilha herdada da história; no segundo, estamos perante a inovação, perante a invenção permanente, perante a subversão metodológica, perante a ausência de uma experiência assente na história e na rotina. Se não se importam prossigo amanhã (na imagem, aqueles que foram candidatos à presidência do município de Quelimane, respectivamente Abel Henriques da Frelimo e Manuel de Araújo do MDM, arranjo meu a partir de fotos do jornalista António Zefanias).
(continua)

28 novembro 2013

Desmentido

O director nacional do Orçamento do Ministério das Finanças e o director nacional dos Recursos Humanos do Ministério da Função Pública desmentiram notícias que circulam em telemóveis de que não haverá este ano pagamento do 13.º mês na função pública e que em 2014 não se pagarão horas extraordinárias, não haverá progressão nas carreiras profissionais, etc. O governo tudo fará para que os salários de Dezembro sejam pagos até ao dia 22 desse mês - "Rádio Moçambique" no noticiário das 19:30.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (2); Propaganda eleitoral pelo vestuário (5); Diário de campanha (15); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (28); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (70); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)

O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (1)

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6)
Se não se importam, prossigo mais tarde, com a proposta de um sumário enquadrador.
(continua)
Adenda às 04:35: leia esta descrição sobre o "recrutamento relâmpago e forçado" aqui.
Adenda 2 às 04:43: os vorazes e acríticos blogues do copia/cola/mexerica continuam viralmente a dar corpo ao boato e os seus proprietários a "ver" recrutamento forçado por todo o lado. Este também é um fenómeno interessante. Nas redes sociais o boato continua igualmente activo. Por outras palavras: digitalmente o boato (hoax) prossegue, um ponto que reabordarei no sumário.
Adenda 3 às 04:50: um canal informativo colocou a palavra boato entre aspas, aqui.
Adenda 4 às 05.20“Trata-se de um boato visando desacreditar o cumprimento deste dever sagrado para com a pátria pelo jovem” - segundo o "Notícias" digital de hoje, posição do director dos Recursos Humanos no Ministério da Defesa Nacional, Edgar Cossa, confira aqui. A teoria conspiratória será um dos pontos do sumário acima referido.
Adenda 5 às 05:24: exemplo de uma notícia cujo autor teve o bom senso de não naufragar viralmente no boato, aqui.
Adenda 6 às 05:42: constitutiva da estrutura do boato é, também, a dificuldade em aceitar que determinado fenómeno é um boato. Muitas pessoas depositam tão obstinada força na crença que se sentem frustradas e, até, irritadas e agressivas, caso tentemos convencê-las de que estão enganadas. Este é um ponto que está integrado no sumário orientador mais acima referido.
Adenda 7 às 06:17: "No primeiro minuto, três pessoas sabem do boato. Dentro de 11 minutos mais de um milhão de pessoas já saberiam do boato. Boatos se espalham muito mais rapidamente em redes como o Twitter, que parece mesmo ser uma rede de notícias. Porém redes como o Facebook espalham os boatos por se tratar de uma rede mais estruturada, com contatos mais próximos que o Twitter. A dica é provocar o início da conversa pelo Twitter e depois levá-la para o Facebook". Aqui.
Adenda 8 às 08:38: "desinformação", assim entende o "Notícias" digital de hoje, aqui.
Adenda 9 às 08:58: informe de um jornalista sedeado na Beira, a meu pedido: "Beira está mais calma. Os chapas voltaram a circular normalmente. As barricadas foram removidas, uma acção que envolveu a polícia e o conselho municipal. Os mercados estão povoados novamente. A polícia disse ontem que foram detidas 23 pessoas acusadas de vandalismo e vai-se pronunciar às 10 horas para o balanço".
Adenda 10 às 09:20: após violento espasmo social, o boato extinguiu-se.
Adenda 11 às 11:37: o enigmático "na sequência" de Henriques Viola, aqui.
Adenda 12 às 15:34: "No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa." - no "O País" digital de hoje, aqui.
Adenda 13 às 19:34: o vice-ministro da Defesa Nacional, Agostinho Mondlane, disse hoje na Beira admitir que alguém tentou criar uma acção oportunística na cidade da Beira visando engendrar instabilidade e agitação. O ministro intregra uma comissão que está a investigar as causas da instabilidade social ocorrida na Beira e no Dondo - notícia na "Rádio Moçambique" no noticiário das 19:30.

Internet em África

Como a internet cria riqueza em África - um trabalho no Slate Africa, aqui.

27 novembro 2013

O boato do tira-camisa

Adenda às 17:28: recorde um texto meu intitulado "Ferro de engomar: fusível social/Chupa-sangue no imaginário periurbano da província de Maputo/Seis fenómenos aparentados de crise, privação, trauma e alegoria", publicado numa das edições do semanário "Savana" e reproduzido na minha página do "Academia.edu", aqui.
Adenda 2 às 18:24: trata-se, agora, de encontrar as infra-estruturas sociais à retaguarda do boato e da intranquilidade gerada, especialmente entre os jovens, o que tentarei fazer proximamente.
Adenda 3 às 20:21: todas as nossas estações televisivas falaram dos tumultos da Beira. O que se passou realmente? Houve recrutamento militar compulsivo? Onde? Vimos um carro militar. A fazer o quê? A fazer recrutamento à força. Todos viram o recrutamento e ninguém viu. Se se pergunta onde alguém viu, responde esse alguém, em grupo, em uníssono, que alguém disse que viu, etc. Toda a clássica estrutura de um boato, toda a estrutura de um boato tipo "chupa-sangue", sobre o qual escreverei.
Adenda 4 às 20:26: certos jornais, os habituais blogues do copia/cola/mexerica e redes sociais estão cheios de um boato cuja análise foi e é sistematicamente marginalizada.
Adenda 5 às 20:34: falando esta tarde na cidade da Beira, o presidente do MDM, Deviz Simango, foi suficientemente lúcido e inteligente para evitar cair na transformação do boato em realidade.
Adenda 6 às 21:29: no portal da "Rádio Moçambique", aqui.
Adenda 7 às 05:09 de 28/11/2013: a estrutura do boato reproduzida daqui:
Adenda 8 às 08:41 de 28/11/2012: foto do "Notícias" digital de hoje:

Na Beira, por confirmar

O portal da "Rádio Moçambique" ainda não contém nenhuma referência ao fenómeno descrito aquiaqui. Os seus noticiários das 12:30, 14 e 15 horas também nada referiram. O portal do "Diário de Moçambique", editado na Beira, há muito que está inoperacional.
Adenda: "Entretanto, o delegado do centro de recrutamento da cidade da Beira, Carlos Michon, em entrevista exclusiva, hoje, a Folha de Maputo disse que não passa de um boato e que as pessoas estão simplesmente em pânico, mas não há nenhuma ordem nem militares nas ruas para recrutar pessoas."
Adenda 2 às 16:20: certos portais e os habituais e ávidos proprietários dos blogues do copia/cola/mexerica acotovelam-se, frenéticos, a repetir acriticamente a notícia do "tira camisa".
Adenda 3 às 16:50: de um jornalista a quem perguntei se o "tira camisa" era real ou boato: "As autoridades dizem que é boato, mas populares continuam convictos de que a coisa está a acontecer. Eu já tenho dúvidas em relação ao assunto, por isso não posso falar com propriedade. A polícia e outros dizem que não é verdade e o governador vai reagir em relação ao assunto. Mas muitos jovens saíram à rua para protestar. Ergueram barricadas em algumas vias que se encontram intransitáveis. A FIR está a tentar dispersar os manifestantes com gás lacrimogéneo e armas de fogo..."
Adenda 4 às 17:02: trata-se de um boato que atingiu as cidades da Beira e do Dondo, província de Sofala, mercados estiveram encerrados, delegado do centro de recrutamento da Beira disse que é falso e que foi nomeada uma equipa para imvestigar a origem do boato - noticiário das 17 horas da "Rádio Moçambique".
Adenda 5 às 17:06: lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
Adenda 6 às 17:20: do mesmo jornalista da adenda 3: "O governador acaba de se pronunciar e diz tratar-se de boatos, apelando à calma. Os tumultos resultaram em um morto (uma criança), são dados preliminares."
Adenda 7 às 18:07: confira este portal aqui.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Propaganda eleitoral pelo vestuário (5); Diário de campanha (15); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (28); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (70); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)

Luta por recursos de vida, poder e prestígio

Uma das notícias do "O País" digital de hoje refere-se a 180 quadros municipais da Renamo que vão perder os seus empregos quando no próximo ano tomarem posse os novos deputados eleitos a 20 de Novembro. Aqui. Uma notícia exemplar para mostrar que as eleições são sempre bem mais do que uma competição em si, pois, na verdade, são sempre uma competição por recursos de vida, poder e prestígio, luta dura e, frequentemente, trágica. Recursos de vida, poder e prestígio são mecanismos, meios, instrumentos e símbolos pelos quais podemos (1) produzir e reproduzir a nossa vida (nível primário) e (2) induzir a conduta de outrem (nível secundário). Exemplos de recursos de  vida, poder e prestígio: emprego, habitação, meios de transporte, formação escolar e universitária, assistência médica e medicamentosa, acesso à palavra pública, reconhecimento social, títulos, prémios, lazer, reforma, postos políticos de direcção, postos estatais de direcção, etc. Defendo que toda a nossa vida gravita em torno da disputa desses recursos, aos mais variados níveis e com as mais variadas intensidades.
Adenda: certamente viremos a saber as reacções que semelhante perda de empregos, bem como a perda de esperanças dos candidatos a deputados da Assembleia da República, deverão provocar no seio da Renamo, especialmente se o partido não concorrer às próximas eleições presidenciais e legislativas.

Papa Francisco, o "apóstolo da desgraça"

Assim falou o Papa Francisco, numa memorável intervenção que, se fosse feita entre nós ou feita por algum moçambicano, teria logo certos cavalheiros a dizer que ele era um "apóstolo da desgraça" (daí a ironia do título em epígrafe) e que nada entendia do "desenvolvimento": "Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras»." Texto na íntegra aqui. Foto reproduzida daqui.

No "mediaFAX" 5436 com data de hoje

Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

Propaganda eleitoral pelo vestuário (4)

Quarto número da série. Escrevi no número anterior que o vestuário pode ser uma excelente isca política. Acrescento agora: isca política muito particular, no sentido de que pode ser uma isca política destinada a invalidar a política sem deixar de a praticar. Antes de tentar explicar o que pretendo dizer com tão enigmática expressão, proponho que tenhamos em conta dois tipos de candidatos partidários: aqueles que são a linguagem textual do partido e aqueles que a inventam. Se não se importam prossigo amanhã (na imagem, aqueles que foram candidatos à presidência do município de Quelimane, respectivamente Abel Henriques da Frelimo e Manuel de Araújo do MDM, arranjo meu a partir de fotos do jornalista António Zefanias).
(continua)

Ditos (69)

Sexagésimo nono dito. Nem sempre somos capazes de ver que dentro do linear se esconde o dialéctico, nem sempre somos capazes de ver que certas vitórias são derrotas e que certas derrotas são vitórias. Na vida o mais difícil consiste em prever que real fruto dará uma semente social.
(continua)

No prelo

Recorde abaixo a capa do primeiro número, já à venda:
A coleção "Cadernos de Ciências Sociais" pretende dar respostas a perguntas simples sobre temas complexos da vida social, com textos combinando simplicidade e rigor de autores de vários quadrantes do imenso mundo falante de português. Nela apresentarei alguns dos grandes cientistas e intelectuais de ramos diversos que escrevem nessa língua no planeta, inscritos num fórum da coleção que cresce dia após dia.

Velhas ideias

26 novembro 2013

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Propaganda eleitoral pelo vestuário (4); Diário de campanha (15); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (28); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (69); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar. 

Diário de campanha (14)

Décimo quarto número da série. Segundo o jornal "Notícias" na versão digital com data de hoje, em avaliação preliminar do processo "o secretário do Comité Central da Frelimo para a Mobilização e Propaganda e porta-voz da organização, Damião José, disse ontem, em conferência de Imprensa, em Maputo, que as eleições decorreram dentro da normalidade e de uma forma ordeira, justa e transparente." Aqui. Porém, o "Boletim sobre o Processo Político em Moçambique", editado por Joseph Hanlon, o "Diário da Zambézia"  electrónico editado em Quelimane e o "Nova Era" electrónico editado em Nampula, dão conta de vários problemas relacionados com a execução e com a transparência das eleições, aí compreendidos os protestos subsequentes. Respectivamente aquiaqui e aqui.
(continua)
Adenda às 20:17: (amplie a imagem abaixo clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato)

Estado agêntico

"Tipicamente, o indivíduo que entra num sistema de autoridade não mais se sente como autor dos seus actos, mas como agente executivo das vontades de outrem. A partir deste estádio, o seu comportamento e o seu equilíbrio interno sofrem alterações tão profundas que a nova atitude daí resultante coloca o indivíduo num estado diferente daquele que precedia a sua integração na hierarquia. É o que chamarei estado "agêntico", pelo qual designo a condição do indivíduo que se considera como agente executivo de uma vontade estrangeira, por oposição ao estado autónomo no qual estima ser o autor dos seus actos." [Milgram, Stanley, Soumission à l´autorité, Un point de vue expérimental. Paris: Calmann-Lévy, 1974, p.167.

Nada de úlceras desnecessárias

25 novembro 2013

Analistas

Certas televisões e rádios locais apresentam esforçadas intervenções de analistas políticos com os mais respeitáveis títulos profissionais que têm a abnegada missão científica de mostrar que o mundo é rudemente bifocal: num lado estão os bons e no outro estão os maus.
Adenda às 20:39: sobre os analistas, postagens neste diário por exemplo aqui, aqui aqui e aqui.
Adenda às 07:18 de 26/11/3013: também aqui.

Autor convida-a (o) para debate publicável

Eis o convite do autor do livro em email que me enviou: "Entre os dias 24 de novembro e 03 de dezembro de 2013 publicarei uma série de textos que, em conjunto, constituirão o ensaio: Reflexões a propósito de um livroA edição irá sendo construída e ficará livremente disponível on-line aqui:
http://malomil.blogspot.pt/
http://malomil.blogspot.pt/2013/11/reflexoes-proposito-de-um-livro-1.html
Convido-a/o a ir participando lendo, comentando, discutindo, interrogando, contestando os textos. Se considerar útil para um debate público e académico de qualidade que possa envolver moçambicanos, angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, são-tomenses, guineenses, timorenses, portugueses, entre outros, agradeço a divulgação da iniciativa e/ou a associação à mesma através de links em blogues ou páginas pessoais. Obrigado e abraço."

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Propaganda eleitoral pelo vestuário (4); Diário de campanha (14); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (28); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (69); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar.