31 março 2015

Estão as línguas nacionais em perigo?

Em "Cultura" - Jornal angolano de Artes e Letras -, as páginas 4 a 7 estão dedicadas ao livro "Estão as línguas nacionais em perigo?", da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora", recentemente lançado em Maputo e Luanda, com autoria de Cristine Severo do Brasil, Bento Sitoe de Moçambique e José Pedro de Angola. Aqui. [referência obtida graças aos bons ofícios de Paulo de Carvalho de Angola]

Os tormentos da Manhiça

Andam atormentadas as gentes com o que chamam desmaios na Escola Secundária da Manhiça [omissos do portal da escola no Facebookaqui], tormentos que passam pela crença de que por ali andam espíritos não menos atormentados. A histeria colectiva acontece um pouco em todo o mundo, mas não consta que por essas imensas bandas planetárias andem espíritos atormentados. Confira exemplos aqui. E para casos bizarros de histeria colectiva confira aqui e aqui. Enquanto isso, a Dra Lídia Gouveia, chefe do departamento de Saúde Mental no Ministério da Saúde, afirmou não ter havido desmaios e estar-se perante "um estado de agitação psicomotora acompanhada de alteração da respiração que passa a mais rápida do que o habitual e agitação no movimento das articulações." Aqui. Finalmente, sobre a Escola Secundária da Manhiça, recorde duas postagens minhas recentes aqui e aqui.
Adenda às 12:14: os alunos paralizaram as aulas, confira aqui.

Duas crianças traumatizadas por razões diferentes

Na foto à esquerda uma criança síria - num país martirizado pela guerra - "rende-se" a um fotojornalista depois de ter confundido uma máquina fotográfica com uma arma [foto de 2012], confira aqui; na segunda foto, uma criança vietnamita chora em estado de choque ao encontrar o seu cão de estimação, chamado Flor, desaparecido havia dias, morto e vendido para consumo num mercado, confira aqui.
Observação: independentemente de épocas, sistemas e estatutos sociais, os seres humanos são os únicos seres vivos capazes de, conscientemente, causar dor sem perímetro a outrem.

Frantz Fanon e Angola

Um texto de João-Manuel Neves [Centre de Recherches sur les Pays de Langue Portugaise - Université de la Sorbonne Nouvelle - Paris 3] sobre Frantz Fanon e a luta pela independência de Angola, que pode ser lido aqui.

Entrevista com Patrícia Gomes da Guiné-Bissau

Leia aqui.

Cinco condições de paz política em Moçambique (2)

Segundo número da série. Entro no primeiro ponto do sumário proposto no número inaugural, a saber: 1. A bola de Mbonimpa e o horizonte utópicoNum dos seus livros o filósofo burundês Melchior Mbonimpa usou uma imagem - para mim excepcionalmente bela - a propósito do que chamou horizonte utópico. Cada protagonista desse horizonte assemelha-se a alguém que, tendo atirado uma bola a um rio no sentido da foz, se lança à água para a apanhar, sem nunca a recuperar mas ao mesmo tempo sem nunca a perder de vista e sem nunca desesperar de a recuperar. Há nisso, ao mesmo tempo, um horizonte, porque o objecto se afasta sempre; e um propósito, porque o alvo, ainda que inacessível, resta visível e leva sempre mais longe o nadador que acredita poder um dia apanhar a bola para a qual projecta o seu desejo infinito. O horizonte utópico nada tem a ver com fuga do real, mas, nas palavras de Mbonimpa, "com um complexo de ideias destinado a dar uma direcção à acção social e política." [Mbonimpa, Melchior, Idéologies de l´indépendance africaine. Paris: L´Harmattan/Points de vue, 1989, pp. 181-182.]. É nesse sentido que a presente série vos é apresentada nesta introdução.
Nota: fico grato a todas aquelas e a todos aqueles que queiram contribuir para o tema, criticando e melhorando as linhas de visão e análise que irão surgindo aqui.

O que é ciência?

Confira aqui.

30 março 2015

Dhlakama: de comandante de guerrilha rural a comandante de desobediência civil urbana (3)

- "Dhlakama afirmou que 15 mil manifestantes travaram uma ditadura no Egito, um Governo, disse, com um exército mais forte que a FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique) e uma polícia bem alimentada, avisando que as multidões que aderem aos seus comícios seriam capazes de assaltar o país em poucos minutos, não havendo homens e balas para parar a sua fúria." Aqui.
- "Imaginem que eu convoco um comício na Beira, com milhares de pessoas, e marchamos para o palácio da governadora [Helena Taipo] para dizer 'vai-te embora'. A polícia pode tentar disparar, os meus guardas também vão responder e, então, voltaríamos à guerra", afirmou Afonso Dhlakama, que se referiu à dirigente provincial de Sofala, nomeada pela Frelimo, como "aquela macua" (originária de Nampula, norte)." Aqui.

Terceiro número número da série. Escrevi no número anterior que o pendor de Dhlakama para a ameaça ganhou uma nova qualidade, as palavras encaixam-se no espectáculo e nas multidões, os signos parecem diferentes. Qual o carácter distintivo da sua estratégia política actual? E qual o papel do seu exército privado? Podem ser consideradas cinco objectivos: 1. Branquear o historial de guerrilha através de acções civis à Gandhi, 2. Tentar transferir para o povo a autoria dos protestos, dotando-o das características de um movimento social, 3. Usar esse povo como escudo contra a acção policial, 4. Criar condições para que as forças de segurança surjam como contrárias à democracia, 5. Produzir uma sanduíche de pressão política em crescendo e de cenário de caos, reactivando a guerrilha rural para complementar a desobediência civil urbana caso esta não surta o efeito desejado. Aguardem a continuidade da série.

No "Savana" 1107 de 27/03/2015, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.

Assassinato de Gilles Cistac: hipóteses sobre contexto, causalidade e consequências (16)

"O facto científico é conquistado, construído e verificado" [Gaston Bachelard]
Décimo sexto número da série. Permaneço no terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Consequências, finalizando o subponto 3.4. Risco de descredibilização dos partidos políticos. Escrevi no número anterior que, como se por efeito dominó, no cadinho das percepções populares sobre política, os partidos políticos em geral podem ser descredibilizados. Na verdade, na aparência de uma imputação popular a um determinado partido, habita uma imputação a todos os partidos, considerados como viveiro de luta permanente por preeminências, por recursos de poder e prestígio, jogando todos os trunfos para atingirem e gerirem o poder, pisando não importa quem para o efeito. Não é raro ouvirem-se frases do género "são todos iguais" ou "se não é este, é aquele, é tudo farinha do mesmo saco". Neste tipo de generalização instintiva, descontente e desconfiada pode encontrar-se uma das razões da abstenção eleitoral. Se não se importam, prossigo mais tarde.

Sobre o Sr. Muttaane

Uma coisa é considerar o Sr. Muttaane como um conservador após analisarmos o que diz, faz ou escreve, um Sr. Muttaane tendo dentro de si uma espécie de substância conservadora autónoma, independente das relações sociais. Outra coisa é analisar o Sr. Muttaane no interior de um determinado sistema social que segrega, quase "naturalmente", o conservadorismo e, ao mesmo tempo, a justificação e a ocultação das relações sociais vigentes.

Dhlakama e a produção de espectáculo (7)

"[...] o líder faz crer que muda ou pode mudar o mundo apenas com o poder da sua palavra" [Taguieff, Pierre-André, L´Illusion populiste, Essais sur les démagogies de l´âge démocratique. Paris: Champs/Flammarion, 2007, p. 33, tradução minha, C.S.].
Sétimo número da série. Passo ao terceiro ponto dos cinco pontos sugeridos aqui, a saber: Bipolarização da política entre bons e maus. O discurso da Renamo em geral e de Afonso Dhlakama em particular é muito simples, muito daltónico: a Frelimo pertence ao reino dos maus e a Renamo ao reino do bons, os males da história são da responsabilidade total da Frelimo, as receitas para os erradicar residem unicamente na Renamo. Ninguém melhor do que Gramsci para definir o populismo de Dhlakama nos comícios: "A massa é simplesmente uma massa de "manobra" e é ocupada com prédicas morais, com tiradas sentimentais, com mitos messiânicos de espera de idades fabulosas, em que todas as presentes contradições e misérias serão automaticamente resolvidas e sanadas." [aqui]

Política e Capital não têm "tribo" (9)

"A categorização dos povos africanos em “tribos” remonta ao período da colonização e ainda hoje pode ser lida nas páginas dos jornais, pois os conflitos africanos chegam às salas de redação do mundo todo com manchetes prontas, geralmente provenientes das agências de notícias norte-americanas ou européias.” Aqui.
Nono número da série. Chegou a altura de terminar esta série. Procurei levantar algumas hipóteses sobre a necessidade de tomarmos em conta que a política e o Capital não têm tribo. E, já agora, também não têm raça. Política e Capital dão-se normalmente as mãos, não importa onde, quando estão em causa a única tribo e a única raça que, afinal, defintivamente, lhes interessa: a mais-valia.

29 março 2015

Cinco condições de paz política em Moçambique (1)

Permitam propor-vos o seguinte sumário orientador do desenvolvimento do tema em epígrafe:
1. A bola de Mbonimpa e o horizonte utópico
2. Uma professora veterana e o problema da crítica
3. Cinco condições de paz política em Moçambique:
3.1. Fóruns de opinião e crítica como alavancas do desenvolvimento
3.2. Laboratórios de ensaio de novas relações de vida e trabalho
3.3. Integração dos partidos da oposição na gestão do bem comum
3.4. Treino das forças de defesa e segurança nos direitos humanos
3.5. Luta por uma justiça mais horizontal nas relações internacionais
Nota: fico grato a todas aquelas e a todos aqueles que queiram contribuir para o tema, criticando e melhorando as linhas de visão e análise que irão surgindo aqui.

Mais importante ainda

O Presidente da República, Filipe Nyusi, é, desde hoje, também Presidente da Frelimo. Jovem ainda com os seus 56 anos, engenheiro, sóbrio, discreto, faz a transição entre os pais fundadores da luta de libertação nacional e as novas gerações pós-independência. Sem dúvida que tudo isso é importante. Mas mais importante ainda é saber se ele e o seu grupo hegemónico, partidário e estatal, serão capazes de dar ao país um rosto de maior dignidade social. No modesto campo digital que é este diário, irei sugerir algumas áreas de reflexão na série que, daqui a alguns minutos, vai começar através de um sumário orientador.
Adenda às 18:55: há na vida posições intrigantes como esta de Damião José a propósito do novo presidente da Frelimo: "O que vai haver é a mesma personalidade, o mesmo camarada, que também desempenha as funções de Presidente da República", afirmou o porta-voz da Frelimo, que desconhece a preparação de mais mudanças nos restantes órgãos do partido." Aqui. [sublinhados meus, CS]

Cinco condições de paz política em Moçambique

Compare-se

Tendo como pano de fundo a IV Sessão Ordinária do Comité Central da Frelimo e sobre o tema da sucessão de Guebuza na direção do partido, compare-se o conteúdo neutro de um trabalho do "Notícias" digital de ontem [aqui] com o conteúdo hostil à crítica de um trabalho divulgado hoje pelo semanário "domingo" digital [aqui]. Ambos os jornais pertencem à "Sociedade do Notícias, SA".
Adenda às 15:14: Armando Guebuza demitiu-se do cargo de presidente do Partido Frelimo, confira aquiaqui.
Adenda 2 às 16:35: "O presidente da República, Filipe Nyusi, acaba de ser eleito pelo Comité Central presidente do partido Frelimo com 98.4% dos votos". Aqui.
Adenda 3 às 04:57 de 30/03/2015: leia o Mozambique 283 com data de ontem, editado pro Joseph Hanlon aqui.

Mundo dos negócios em Moçambique

Confira os cabeçalhos das mais recentes notícias sobre o mundo de negócios em Moçambique, aqui. [amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]

Partidos políticos

Existem em António Gramsci muitos materiais, em meu entender excelentes, para podermos fazer um dia a história dos nossos partidos políticos. Por exemplo, escreveu que a existência de um partido político depende da confluência de três grupos de elementos:
1. "Um elemento difuso, de homens comuns, médios, que oferecem como participação a sua disciplina e a sua fidelidade, mas não o espírito de criação e de alta responsabilidade. Sem eles o partido não existiria, mas também é verdade que o partido não existiria "unicamente" com eles."
2. "O elemento coesivo principal, que centraliza a nível nacional, que faz tornar eficiente e potente um conjunto de forças que, entregues a si, não contariam nada, ou contariam pouco, é um elemento dotado de força altamente coesiva, centralizadora e disciplinadora (...): é também verdade que, sozinho, este elemento não formaria o partido. No entanto, formá-lo-ia mais do que o primeiro elemento considerado."
3. "Um elemento médio, que articula o primeiro com o segundo elemento, que os põe em contacto, não só "físico", mas moral e intelectual."
Finalmente, escrevendo sobre os partidos de massas e sobre estas: "(....) massas que, como massas, não têm outra função política senão a de uma fidelidade genérica, de tipo militar, a um centro político visível ou invisível (...). A massa é simplesmente uma massa de "manobra" e é ocupada com prédicas morais, com tiradas sentimentais, com mitos messiânicos de espera de idades fabulosas, em que todas as presentes contradições e misérias serão automaticamente resolvidas e sanadas." [Gramsci, António, Obras escolhidas. Lisboa: Editorial Estampa, 1974, vol. I, pp. 286-287, 290-291].

28 março 2015

Eleições hoje na Nigéria

"A Nigéria vai às urnas neste sábado (28) para escolher o próximo presidente do país, em meio a temores de que atos de violência, principalmente deflagrados pelo Boko Haram, atrapalhem o pleito." Aqui.
Adenda às 18:41: "Os resultados das eleições presidenciais e legislativas deste sábado na Nigéria serão divulgados 48 horas depois da votação, anunciou a Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC)." Aqui.
Adenda 2 à 18:45: lerá a nossa CNE este anúncio da congénere nigeriana?
Adenda 3 às 07:27 de 29/03/2015: apesar de vários problemas, houve boa afluência de votantes, o processo termina hoje, domingo, confira aqui.

Afinal discutiu-se sucessão de Guebuza

É o próprio "Notícias" que, na sua versão digital de hoje, invocando "fontes fidedignas do partido", anuncia que a sucessão de Guebuza foi discutida na IV Sessão Ordinária do Comité Central do partido. Aqui. Recorde-se que o porta-voz do partido, Damião José, dissera no dia 25 que a sucessão de Guebuza estava fora da agenda do encontro. Aqui.
Adenda às 07:07: recorde o que terá dito Damião José segundo o "Diário de Moçambique", aqui.
Adenda 2 às 07:19: leia, entretanto, um texto de Emildo Sambo aqui.
Adenda 3 às 08:48: talvez não fosse desinteressante analisar a posição do circunspecto "Notícias" em relação à sucessão de Guebuza, com o acima citado furo jornalístico.
Adenda 4 às 11:04: esse furo ocupa seis colunas na primeira página do matutino, acompanhadas de uma foto a cinco colunas de Guebuza a discursar. Muito interessante este destaque, depois da campanha partidária destinada a fazer acreditar que não se discutiria a sucessão.

Dhlakama: de comandante de guerrilha rural a comandante de desobediência civil urbana (2)

- "Dhlakama afirmou que 15 mil manifestantes travaram uma ditadura no Egito, um Governo, disse, com um exército mais forte que a FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique) e uma polícia bem alimentada, avisando que as multidões que aderem aos seus comícios seriam capazes de assaltar o país em poucos minutos, não havendo homens e balas para parar a sua fúria." Aqui.
- "Imaginem que eu convoco um comício na Beira, com milhares de pessoas, e marchamos para o palácio da governadora [Helena Taipo] para dizer 'vai-te embora'. A polícia pode tentar disparar, os meus guardas também vão responder e, então, voltaríamos à guerra", afirmou Afonso Dhlakama, que se referiu à dirigente provincial de Sofala, nomeada pela Frelimo, como "aquela macua" (originária de Nampula, norte)." Aqui.

Segundo número da série. Parece ser difícil negar que Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, foi e é um especialista de guerrilha, a história está cheia de documentos que comprovam essa sua especialidade, especialidade de general de quatro estrelas como gosta de se nomear. E guerrilha da mais destrutiva e letal possível. Porém, a partir de Novembro do ano passado, terminado o período eleitoral, o presidente da Renamo começou a fazer comícios nas províncias, o seu exército privado deixou de emboscar estradas e pessoas. O seu pendor para a ameaça ganhou uma nova qualidade, as palavras encaixam-se no espectáculo e nas multidões, os signos parecem diferentes. Qual o carácter distintivo da sua estratégia política actual? E qual o papel do seu exército privado? Aguardem a continuidade da série.

"À hora do fecho" no "Savana"


Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1107, de 27/03/2015, disponível na íntegra aqui:
Nota: de vez em quando perguntam-me por que razão o ficheiro está protegido com senha e marca de água. Resposta: para evitar que os ávidos parasitas do copy/paste/mexerica o copiem, colocando-o depois no seu blogue ou na sua página de rede social digital com uma indicação malandra do género "Fonte: Savana". Mas, claro, um ou outro é persistente e consegue transcrever para o word certos textos, colocando-os depois no blogue ou na rede social, mas sem mostrar o verdadeiro elo. Mediocridade, artimanha e alma de plagiador são infinitas.

27 março 2015

Amanhã na íntegra neste diário

Guebuza e os críticos

Enquanto foi Chefe de Estado, Armando Guebuza criticou, publica e indiferenciadamente, os seus críticos. Agora, como Presidente da Frelimo, critica membros do partido, deve ser a primeira vez que, publicamente, explicitamente, o faz. Talvez seja nesse sentido que, para definir aqueles que considera como verdadeiros membros, fez uso de uma nova expressão política: membros de cartão e coração.Entretanto, recorde neste diário uma postagem de ontem aqui.
Adenda às 08:23: oiça o que disse Jorge Rebelo, num  vídeo da estação televisiva TIM, no qual foi entrevistado depois de Pascoal Mucumbi, aqui.
Adenda 2 às 09:26: mediaFAX de hoje, primeira página [amplie a imagem abaixo clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato].

Adenda 3 às 10:02: Ainda Jorge Rebelo: "Por exemplo agora nas sessões seguintes os convidados estão excluídos. Eu não tenho direito de participar mais. (Se fosse membro do Comité Central), claro que diria (A necessidade de passar as pastas para Nyusi). Não só porque isso é útil para democracia e para a democracia do partido, mas porque é meu dever. O meu dever não é vir aqui bater palmas. O dever do membro do Comité Central é levantar as questões que cada um considera pertinentes e que contribuem para a estabilidade no país. E estabilidade só pode existir com uma discussão aberta." [mediaFAX com data de hoje, p. 2]

Dhlakama: de comandante de guerrilha rural a comandante de desobediência civil urbana (1)

- "Desobediência civil, que erradamente pode ser confundida como desacato, é uma forma de protesto político, feito pacificamente, que se opõe a alguma ordem que possui um comportamento de injustiça ou contra um governo visto como opressor pelos desobedientes." [Wikipedia]
- "[...] um ato ilegal público, não violento, de consciência, mas de caráter político, realizado com o fim de provocar uma mudança na legislação ou na política governamental” [Rawls, John, Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 2.ª ed.ª, p. 364].
Segue-se um conjunto de hipóteses que, eventualmente, pode ser útil para uma pesquisa aprofundada. A estratégia política da Renamo transitou da guerrilha rural para a desobediência civil, sob comando de Afonso Dhlakama. O que significa isso? Quais os objectivos? A desobediência civil urbana eliminou a guerrilha rural? Aguardem a continuidade da série.

26 março 2015

Guebuza, Thai e Rebelo: sobre crítica e coesão

Textos da "Lusa" divulgados pelo "SapoNotícias":
Armando Guebuza - "Preocupa-nos a postura e comportamento de alguns camaradas que publicamente engendram acções que concorrem para perturbar o normal funcionamento dos órgãos e das instituições e para gerar divisões e confusão no nosso seio", declarou o ex-Presidente [Armando Guebuza, CS], que se mantém líder da Frelimo, perante 195 membros do Comité Central e dezenas de convidados." Aqui.
Hama Thai - "Sobre a crítica de Armando Guebuza a supostos pronunciamentos que ameaçam a coesão da Frelimo, Hama Thai [ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, CS] afirmou desconhecer elementos que fundamentem essa tese, considerando que o presidente do partido está munido de informação nesse sentido." Aqui.
Jorge Rebelo - "Ele está a travar a discussão, quando lança esses recados de que há membros que estão a lançar publicamente ideias que enfraquecem o partido. Isso é que é mau, porque mete medo às pessoas e, pronto, aí estamos silenciados", afirmou à Lusa o antigo dirigente da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e ex-ministro da Informação de Samora Machel." Aqui.
Observação: aqui estão três posições excelentes para um amplo debate em muitos campos. Hipótese: quanto mais sólido e maior for um partido político (controlando regularmente as malhas da extensão), mais pode tolerar na periferia (secções mais fracas e distantes do centro decisional) os elementos corajosos, críticos, hesitantes ou propensos aos compromissos com adversários.
Adenda às 06:50: em Julho do ano passado escrevi uma série com 17 números intitulada "A hipótese do duplo poder", mais tarde reproduzida aqui.

Para reflexão

Aqui, leia também aqui. [amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]

Duas novas Colegas na coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora"

Permitam-me apresentar-vos duas novas Colegas do fórum de autores da coleção referida em epígrafe, a chinesa Sun Yuqi e a brasileira Valda Colares. Sejam bem-vindas à coleção, coleção que cada vez mais se mundializa.

Frelimo reunida na Matola

As estações televisivas TVM, STV e TIM estão a cobrir a quarta sessão ordinária do Comité Central da Frelimo que se realiza no município da Matola.
Adenda às 14:49: um trabalho a conferir aqui.

Dhlakama: de comandante de guerrilha rural a comandante de desobediência civil urbana

Apagão

Pela segunda noite consecutiva, um apagão afectou vários bairros da cidade de Maputo.
Adenda às 10:30: um trabalho do "@Verdade/Facebook", aqui.

Assassinato de Gilles Cistac: hipóteses sobre contexto, causalidade e consequências (15)

"O facto científico é conquistado, construído e verificado" [Gaston Bachelard]
Décimo quinto número da série. Permaneço no terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Consequências, entrando no subponto 3.4. Risco de descredibilização dos partidos políticos. Escrevi um pouco sobre o risco de descredibilização do Estado quando, nas percepções populares, um assassinato é revestido de conotações políticas. Mas não só o Estado e não só, também, o partido que o gere. Como se por efeito dominó, no cadinho das percepções populares sobre política, os partidos políticos em geral podem ser descredibilizados. Por quê? Se não se importam, prossigo mais tarde.

Dhlakama e a produção de espectáculo (6)

"[...] o líder faz crer que muda ou pode mudar o mundo apenas com o poder da sua palavra" [Taguieff, Pierre-André, L´Illusion populiste, Essais sur les démagogies de l´âge démocratique. Paris: Champs/Flammarion, 2007, p. 33, tradução minha, C.S.].
Sexto número da série. Escrevi no número anterior sobre a teatralização do papel de messias e demiurgo a cargo do presidente da Renamo. Passo ao segundo ponto dos cinco pontos propostos aqui, a saber: Ritualização do drama e do imaginário. Portador de fala rápida habitada por termos populares, hábil a reescrever e a branquear a história a seu favor e a favor do seu partido, autoproclamado pai da democracia num país que com ele viveu um dos mais cruéis holocaustos da história (confira aqui), Afonso Dhlakama sabe ritualizar o drama e o ávido imaginário popular atribuindo a totalidade dos males de Pandora à rival, a Frelimo. O seu discurso é muito simples: a Frelimo é produtora partidária de infelicidade, ele e o seu partido criarão a felicidade apartidária quando estiverem a gerir o Estado.
Adenda às 06:36: entretanto, a ênfase na desobediência civil mantém-se inalterável nos propósitos do presidente da Renamo: "Dhlakama afirmou que 15 mil manifestantes travaram uma ditadura no Egito, um Governo, disse, com um exército mais forte que a FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique) e uma polícia bem alimentada, avisando que as multidões que aderem aos seus comícios seriam capazes de assaltar o país em poucos minutos, não havendo homens e balas para parar a sua fúria." Aqui. Recorde neste diário a série em 14 números intitulada "Renamo: desobediência civil como estratégia política", aqui.
Adenda 2 às 06:43: mais um exemplo, desta vez com um laivo étnico: "Imaginem que eu convoco um comício na Beira, com milhares de pessoas, e marchamos para o palácio da governadora [Helena Taipo] para dizer 'vai-te embora'. A polícia pode tentar disparar, os meus guardas também vão responder e, então, voltaríamos à guerra", afirmou Afonso Dhlakama, que se referiu à dirigente provincial de Sofala, nomeada pela Frelimo, como "aquela macua" (originária de Nampula, norte)." Aqui.

25 março 2015

37° amanhã

Amanhã, a cidade de Maputo deverá ser a mais quente do país, com a temperatura máxima atingindo 37° Celsius - boletim metereológico da "Rádio Moçambique" às 19:25.

Velocidade de internet

Qual o papel da imagem na história?

Iniciei hoje a preparação do número intitulado "Qual o papel da imagem na história?" (15.º coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora"), recheado de imagens, com as seguintes e ricas contribuições (pela ordem de entrada nas fotos acima):
- A História em Imagens e as Imagens na História (Por João Spacca de Oliveira, Brasil, primeira participação na coleção)
- Contextualizando a fotografia na antropologia: Um estudo de caso na abordagem à imagem fotográfica (Por Rui Assubuji, Moçambique, primeira participação)
- Qual o papel da imagem na História? (Por Osvaldo Macedo de Sousa, Portugal, segunda participação)
- Imagem e contestação (Por Lailson de Holanda Cavalcanti, Brasil, segunda participação)

A estrutura e o seu firewall

estrutura [termo para designar em Moçambique o dirigente estatal ou político, regra geral de alto nível] nasce no dia em que um pacato cidadão recebe a tarefa de dirigir algo importante no Estado ou no partido gestor do Estado. A partir desse dia acontece a modificação metabólica do seu ser social. Então, a estrutura distancia-se, cria todo um enorme e sumptuoso conjunto de barreiras e de regras entre si e os outros, de complicados meios de acesso, de sinais de aviso, digamos que se rodeia de um poderoso firewall com a função de mostrar que tem o poder de poder sujeitar os pretendentes ao contacto a um ritual clientelista firme e sem fim. A mentalidade do antigo pacato cidadão, hoje estrutura de grande visibilidade, gestor de imponentes recursos de poder, consiste em distanciar-se do comum dos mortais para ser respeitado. A solene e teatralizada estrutura de hoje exige súplica, temor e vassalagem, mesmo quando sorri, especialmente quando sorri - esse é um dos seus maiores prazeres. Como disse um dia Samora Machel, os homens podem alterar situações, mas novas situações podem transformar os homens, mesmo os mais revolucionários.

Linchamentos

Os linchamentos parecem regressar à vida e às notícias do país, o mais recente caso está aqui, recorde neste diário aquiEntretanto, tente ler os livros com as capas abaixo:
[Amplie as imagens clicando nelas com o lado esquerdo do rato.]

24 março 2015

Dhlakama e a produção de espectáculo (5)

"[...] o líder faz crer que muda ou pode mudar o mundo apenas com o poder da sua palavra" [Taguieff, Pierre-André, L´Illusion populiste, Essais sur les démagogies de l´âge démocratique. Paris: Champs/Flammarion, 2007, p. 33, tradução minha, C.S.].
Quinto número da série. Escrevi no número anterior que o estilo político de Afonso Dhlakama - líder populista, conservador, castrensemente autoritário, líder que nada tem de revolucionário - tem, por hipótese, cinco características: 1) Teatralização do papel de messias e demiurgo, 2) Ritualização do drama e do imaginário, 3) Bipolarização da política entre bons e maus, 4) Recurso permanente à linguagem castrense e 5) Especial predileção pelo castigo. Na verdade, o presidente da Renamo é um excelente encenador e ama cada vez mais apresentar-se perante um público ávido de melhoria de vida e de novidades fortes como messias profano e demiurgo, como aquele que chegou para salvar os desafortunados e criar um mundo à maneira renamiana. Com esta teatralização populista, cheia de promessas prometeicas, Dhlakama procura fazer esquecer um dos mais cruéis holocaustos da história (lembre aquiaquiaquiaquiaquiaquiaquiaqui e aqui). Se não se importam, prossigo mais tarde.

23 março 2015

Discursos de Nyusi

Os discursos do presidente Filipe Nyusi parecem curtos, sóbrios e escorreitos, sem aquelas expressões-refrão da era guebuziana [povo maravilhoso, pérola do índico, pátria de heróis, etc.]. Quem será que os prepara?

O espírito de Marx está inquieto

Na África do Sul, segundo o portal da "Rádio Moçambique": "Entretanto, os líderes tradicionais acabam de apresentar um conjunto de exigências ao Governo, que incluem benefícios conjugais, viatura protocolar da marca Mercedes Benz e casas totalmente equipadas com máquinas de lavar roupa e loiça. Exigem também assistência médica e outros benefícios equiparados aos dos membros do parlamento, incluindo o salário, por forma a compensar o trabalho que prestam à nação." Aqui. Original em inglês aqui.
Observação: sem comentários, que fique apenas o título da postagem.

Agora só faltava ser também Mandela

Segundo a "Lusa" através do "SapoNotícias": "Já dei tudo ao meu povo, desde 1977, não é só Mandela da Africa do Sul, há mais ´Mandelas`, que é o Dhlakama de Moçambique", afirmou o líder da Renamo, num encontro com estudantes e académicos na cidade de Tete, centro, citado hoje na imprensa local." Aqui.
Observação: aumenta a megalomania de Afonso Dhlakama, presidente da Renamo.
Adenda às 15: 50: sugiro continue a seguir esta série aqui.

Verdademente porque alegadamente

O cidadão Fala O que Viu diz, por exemplo, o seguinte: "Há cobranças ilícitas feitas pelos agentes do Leão que Tudo Pode". Ora, é frequente certos jornais darem a notícia assim: "O cidadão Fala o Que Viu queixou-se de alegadas cobranças ilícitas por parte do Leão que Tudo Pode [...]." Com tanta mania de alegação, alegadamente um dia nada se passou, nada se passará, nada será verdade verdademente porque alegadamente.

Nyusi samorizou?

Há dias o Presidente Nyusi mostrou-se preocupado com o uso excessivo da força física por parte da polícia, recorde aqui. Aparentemente, essa crítica pública feita pelo Presidente passou despercebida. Ora, o que parece ter sucedido foi a recuperação do espírito de algumas das intervenções de Samora Machel, quando este, publicamente, criticava membros e acções dos aparelhos de Estado.

No "Savana" 1106 de 20/03/2015, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.

"Uma sociedade corrupta fede", disse o Papa

"A corrupção é suja e a sociedade corrupta fede" - afirmou o Papa Francisco em Nápoles, na Itália, leia aqui. [agradeço ao RC o envio da referência]

22 março 2015

Novo tema: ideologia

Há um novo tema na coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora", com este título provisório: "Ideologia - máscara ou realidade?" Da equipa redactora em formação consta, desde hoje, Alípio de Sousa Filho, cientista social brasileiro.

Assassinato de Gilles Cistac: hipóteses sobre contexto, causalidade e consequências (14)

"O facto científico é conquistado, construído e verificado" [Gaston Bachelard]
Décimo quarto número da série. Permaneço no terceiro ponto do sumário proposto aqui, a saber: 3. Consequências, finalizando o subponto 3. Risco de descredibilização do Estado. A multiplicação de assassinatos e a aparente impunidade de vários dos mandantes e executores são indicadores preocupantes de insegurança e de gangstarização no país. A situação agrava-se e a descredibilização do Estado aumenta quando, nas percepções populares, um assassinato é revestido de conotações políticas. Se não se importam, prossigo mais tarde.

Dhlakama e a produção de espectáculo (4)

Quarto número da série. Permaneço no segundo ponto do sumário anterior. O estilo político de Afonso Dhlakama - líder populista, conservador, castrensemente autoritário, líder que nada tem de revolucionário - tem, por hipótese, cinco características:
*Teatralização do papel de messias e demiurgo
*Ritualização do drama e do imaginário
*Bipolarização da política entre bons e maus
*Recurso permanente à linguagem castrense
*Especial predileção pelo castigo
Se não se importam, prossigo mais tarde.