31 agosto 2016

É triste, esse Brasil

Com a frase em epígrafe termina uma postagem de Luis Felipe Miguel no Facebook a propósito da destituição da presidente Dilma Rousseff, confira aqui, na minha página lá, também, aqui.

Sobre os G40 e os estrangeiros de cada grupo

Complexidade da vida e três movimentos

A complexidade da vida obriga os seres humanos a produzir quadros e categorias simplificadoras e domesticadoras do social, que operam através de três movimentos: julgamento retrospectivo (do género "se assim foi no passado, sempre assim será"), indução simplificadora (trata-se do "efeito do corvo negro": se encontramos um corvo negro, somos tentados a supor que todos os corvos são negros) e precedência afectiva (primeiro os “nossos”, depois os “outros”).

30 agosto 2016

Dos mortos sem paz e ponto de agenda [3]

Segundo número aqui. Escrevi, já, que somos um país produtor de mortos sem sepultura e sem paz. Falei-vos do tráfico de escravos, observando que deu origem a milhares de mortos sem sepultura, seus espíritos errando sem paz, camponeses e artesãos fugindo sem descanso. Mas o percurso castrense prosseguiu de forma severa. A ocupação militar colonial a partir de 1886 e os conflitos entre Portugal e a Alemanha no decorrer da Primeira Guerra Mundial (especialmente entre 1916 e 1918 no norte/centro do país) ampliaram o medo, a morte, o saque e a fuga nas comunidades aldeãs.

Eleições municipais sul-africanas e análises trágicas [8]

Sétimo número aqui. Sugeri-vos um sumário no número inaugural desta série, aqui. Inicio o último ponto: 3. Ênfase esquecida: luta com votos e não com armas.  A quase totalidade dos textos sobre as eleições municipais sul-africanas foi dedicada à hierarquia dos votos. Num país como o nosso, onde as armas estabelecem regras nas zonas rurais, faltou ter em conta um fenómeno: a ausência de protestos armados pós-eleitorais. [imagem adaptada daqui]

29 agosto 2016

Polícia frustrou ataque da Renamo em Tsangano/Tete

A polícia frustrou esta madrugada uma tentativa de assalto de homens armados da Renamo a infra-estruturas sociais da localidade de Maconje, distrito de Tsangano, província de Tete, designadamente o centro de saúde e a secretaria da administração local. Não houve vítimas. Uma viatura policial foi atingida, tendo ficado com vidros partidos e tanque de combustível afectado. Este é o segundo ataque no distrito, tendo o primeiro ocorrido ainda este ano na localidade de Panga. - jornal da noite das 19:30 da "Rádio Moçambique". Recorde aqui.

Bolha imobiliária em Moçambique

Num portal imobiliário: "Desde janeiro de 2016 tem-se verificado uma redução de 30 a 40% na maioria dos preços de aluguer de residências em Maputo, com uma redução superior de até 50% em algumas áreas da Matola, tais como Matola Rio, Fomento e Matola Cidade. [...] As regiões de Pemba, Palma, Nacala – outrora "a prometida corrida do ouro” - têm visto muitos projetos pararem, encerrarem, ou a funcionar a taxas extremamente baixas de ocupação com rendimentos negativos, uma vez que os investidores estrangeiros e as empresas multinacionais retiraram-se por ora destas regiões". Aqui.
Adenda às 11:04: confira a euforia em 2013 por exemplo aqui.

Transições

As transições são sempre compósitas, complexas, mestiças. O novo faz quase sempre amor com o velho, os espíritos do passado coabitam com os espíritos do futuro. Por baixo de um fato cerimonial pode muitas vezes esconder-se o camuflado da guerra.

No "Savana" 1181 de 26/08/2016, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.

28 agosto 2016

Com o "Faísca" lá no Niassa

Aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: em Yaawokucela significa amanhecer. O jornal Faísca é editado em Lichinga, capital provincial do Niassa. Sobre a província do Niassa, confira aqui.

27 agosto 2016

Renamo atacou hoje em Murrupula/Nampula

Homens armados da Renamo atacaram cerca das 5 horas da manhã de hoje o posto administrativo de Nihessiue [espero ter registado bem o nome, CS], distrito de Murrupula, província de Nampula, tendo causado estragos no posto policial, no posto de saúde e na residência do chefe de posto, para quem foram disparadas duas balas, mas sem o ferirem. No posto de saúde, os homens da milícia da Renamo roubaram medicamentos e redes mosquiteiras e queimaram parte da residência do chefe do posto. - "Rádio Moçambique", jornal da noite das 19:30.
Adenda às 19:56: os milicianos da Renamo não visam unidades militares, mas especialmente postos policiais e de saúde em postos administrativos, para além de emboscadas a veículos civis das colunas motorizadas - eis o que parece possível de concluir dos ataques que se multiplicam e se diversificam em termos provinciais.
Adenda 2 às 05:48 de 29/08/2016: confira o relato no portal da "Rádio Moçambique" aqui.

O que é psicologia? [hoje é o Dia da (o) Psicóloga (o)]

Um dos próximos números da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora" chamar-se-á "O que é psicologia?" (título provisório) e terá como autores Zaida Morais de Freitas de Cabo-Verde, Fátima Rodrigues de Portugal, Palmira Fortunato dos Santos de Moçambique e Jaqueline Gomes de Jesus do Brasil, pela ordem de entrada na foto abaixo.

Uma coluna semanal

Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1181, de 26/08/2016, disponível na íntegra aqui:

26 agosto 2016

Samora não pertence ao passado mas ao futuro

É necessário resamorizar a vida e o futuro se queremos ter um novo tipo de relações sociais que bloqueie armas físicas e armas simbólicas, relações sociais que desarmem as mentalidades bélicas. Samora não pertence ao passado, mas ao futuro, Samora é futuro. - a propósito de Samora Machel, disse algo como isso ontem a um grupo de jornalistas, à margem de uma palestra dada na Associação dos Escritores Moçambicanos.

Presidente Nyusi sobre a paz

"Temos que encontrar uma solução que seja sustentável, viável. Não rasgar a Constituição da República, não depor abaixo a democracia que é uma realidade neste país, onde ciclicamente as pessoas vão às urnas para diferentes tipos de eleições”, afirmou." Aqui.
Adenda às 03:43: algumas posições minhas ontem numa palestra dada na Associação dos Escritores Moçambicanos, aqui.

Muros sociais

Muros sociais, historicamente construídos e reproduzidos (jamais muros naturais), mapeiam o nosso relacionamento com outrem. Quem estiver para além dos muros familiares, de amizade e laborais, quem estiver fora dos nossos muros culturais é encarado como estranho e, eventualmente, como irredutível e perigoso, especialmente se o contacto for com estrangeiros. O território que é o nosso, o território no qual habitamos, o território com as suas fronteiras convencionais, é bem mais do que um território físico, bem mais do que o território de uma comunidade, de um país. É, também (talvez devesse dizer principalmente), um território cognitivo, um território de determinados costumes, de determinadas regras, de determinadas maneiras de encarar a vida, de determinados grupos e classes sociais. Por isso parece-me adequada a expressão muros sociais. Essa expressão poderia ser ampliada com estoutras: muros cognitivos, muros morais, muros de preconceitos, muros de prejuízos, muros de clichés, etc. Muros que, em sua diversidade social, são como semáforos sociais: dão licença aos nossos, vedam o acesso aos outros, aos estranhos.

25 agosto 2016

Saiba sobre Moçambique

Saiba sobre Moçambique através do mais recente número de um boletim editado por Joseph Hanlon, com data de hoje, aqui.

Eleições municipais sul-africanas e análises trágicas [7]

Sexto número aqui. Sugeri-vos um sumário no número inaugural desta série, aqui. Finalizo este ponto: 2 Síndrome dos erros do vencedor. Escrevi no texto anterior que adeptos e adversários comungam do mesmo princípio: o ANC é o eixo de referência, o vencedor por natureza, o líder permanente, afectado apenas pelos seus erros na redoma primordial. [confira um texto com data de hoje aqui] É como no futebol. Quando uma grande equipa é derrotada por uma equipa modesta, a convicção é que perdeu não por mérito do adversário mas pelos erros cometidos. Nas notícias jornalísticas e no diz-que-diz popular, não é a vitória normal da equipa modesta que está em vista, mas a derrota anormal da grande equipa habituada a ganhar. O que importa é a grande equipa, não a pequena. A derrota da grande equipa é considerada uma tragédia. Na verdade, parece sermos prisioneiros fervorosos de darwinismos de todos os tipos[imagem adaptada daqui]

Hoje 17:30 sede da AEMO/cidade de Maputo

A "Escolar Editora" irá expor os 16 números já impressos da colecção "Cadernos de Ciências Sociais".

As aspas da Lusa

Aqui. Recorde aqui.

24 agosto 2016

Moody's sobre Moçambique

Citada pelo "macauhub", a agência de notação de risco Moody's prevê um futuro sombrio para Moçambique, aqui.

Negócios em Moçambique

Confira os cabeçalhos das três mais recentes notícias do mundo de negócios em Moçambique aqui. [se quiser ampliar a imagem clique sobre ela com o lado esquerdo do rato]

Dominadores e dominados

O dominador nasce quando a sua ordem é obedecida (impulso); o dominado nasce quando a ordem já é dispensável e ele limita-se a obedecer (aguilhão): bastam insígnias, uniformes, títulos, etc., para fazerem o aguilhão actuar. A dominação está interiorizada, a obediência ganhou vida própria, o quadro de referência do dominado passou a ser o do dominador. Se os dominadores constroem os dominados, os dominados reproduzem os dominadores.

Museu tipográfico na UEM

A Imprensa Universitária da Universidade Eduardo Mondlane está a organizar um museu tipográfico, reunindo velhas máquinas em desuso. [agradeço ao Sérgio Tique a gentileza de me dar a conhecer a iniciativa]

23 agosto 2016

Dos mortos sem paz e ponto de agenda [2]

Número inaugural aqui. Escrevi, já, que esta curta série tem duas ideias. A primeira é esta: se tivermos em conta a história, somos um país produtor de mortos sem sepultura e sem paz. A segunda é esta: nos pontos agendados pela comissão mista da paz não consta o problema dos mortos no actual conflito. Vamos à primeira ideia. Na verdade, temos a nossa história cheia de guerras. Os registos escritos assinalam-nas, especialmente com o tráfico de escravos a partir do século XVII. A caça ao escravo criou milhares de mortos sem sepultura, seus espíritos errando sem paz, camponeses e artesãos fugindo sem descanso.

Eleições municipais sul-africanas e análises trágicas [6]

Quinto número aqui. Sugeri-vos um sumário no número inaugural desta série, aqui. Prossigo neste ponto: 2 Síndrome dos erros do vencedor. Quando o vencedor perde pontos eleitorais, parcial ou totalmente, a matriz do pensamento dos adeptos e dos adversários consiste não em salientar a estratégia e os ganhos do (s) adversário (s), mas os erros do perdedor em si, por si próprios, como se produto de um certo tipo de autismo político. Por outras palavras: o (s) adversário (s) é (são) desnecessário (s), o problema é suposto residir unicamente no perdedor habituado a ser vencedor. Foi assim com o ANC. Este partido cometeu erros, teve encalhes em algumas cidades  - assim se defendeu e defende. Se não os tivesse cometido teria ganho. Adeptos e adversários comungam do mesmo princípio: o ANC é o eixo de referência, o vencedor por natureza, o líder permanente, afectado apenas pelos seus erros na redoma primordial. [imagem adaptada daqui]